Uso da Tecnologia e das Informações e os Novos Transtornos

Uso da Tecnologia e das Informações e os Novos Transtornos

17 de agosto de 2020

Com a pandemia, muitas pessoas passaram a trabalhar em home office e estudantes passaram a participar de aulas online, com isso a tecnologia invadiu maciçamente nossas casas como nunca antes visto e com ela milhares de informações nos chegam em especial relacionadas ao momento em que vivemos.

Contudo, estudantes e professores não foram preparados para esta nova realidade, assim como a maioria dos trabalhadores em home office.

A reflexão que faço é: Que relações podemos fazer da Tecnologia com a saúde e bem-estar das pessoas?

Todas as inovações tecnológicas, como a internet e a inteligência artificial, vieram para ficar e traz inúmeros benefícios. Por outro lado, a tecnologia, também tem seu lado negativo quando a pessoa não sabe utilizá-la de forma saudável. Um exemplo é a rede social, que geralmente leva a pessoa a se comparar com os outros, levando a pessoa a viver a vida dos outros. Com isto, pode gerar ansiedade e depressão, além de outros transtornos.

O contato intenso e sistemático com dispositivos eletrônicos trouxe alguns impactos negativos para a saúde humana nos últimos anos, com o desenvolvimento de doenças agora consideradas típicas do século XXI.

Os números relativos ao tamanho das informações que nos bombardeiam nas diversas mídias, surpreendem:

• Nas últimas três décadas, a humanidade consumiu um volume de dados maior do que em cinco mil anos

• Uma edição de um jornal, como New York Times, contém mais notícias do que uma pessoa comum poderia receber durante toda a vida na Inglaterra do século XVII

• Atualmente existem mais de três bilhões de páginas na internet

• É possível ter acesso a centenas de canais de TV, em diversos idiomas e especialidades.

Não saber lidar com todo este volume de informações pode causar distúrbios psicológicos e impactos negativos na saúde e no trabalho.

Um deles é a Síndrome da Fadiga da Informação ou Ansiedade pela Informação, nome dado pelo psicólogo David Lewis, para a sobrecarga de informação, que com seus efeitos físicos, psicológicos e sociais sobre a pessoa, podem gerar estresse, tensão, distúrbios de sono, problemas digestivos, dificuldade de memorização e irritabilidade.

A crescente busca por produtividade, competência e sucesso, nos impulsiona a buscar cada vez mais informações, gerando angústia e ansiedade, porque a pessoa, normalmente sente que nunca chega lá. A pessoa com esta síndrome, também pode ter sua memória afetada e/ou lapsos de memória.

Segundo o autor do Livro “Ansiedade da Informação”, a ansiedade por informação é causada pelo frequente e crescente abismo entre o que se compreende ou se conhece e o que se acha que deveria compreender/conhecer. E ainda sugere que as pessoas encarem o mundo como um grande depósito de construção onde cada um deve ser o arquiteto de sua própria catedral, selecionando aquilo que de fato seja útil. É uma espécie de “ignorância programada”, em que se escolhe o que se quer absorver, deixando o resto de lado.

É esta seleção que temos que fazer para manter nossa saúde e bem-estar.

Um outro transtorno que vem surgindo é o FoMO (do inglês fear of missing out , ou “medo de ficar por fora”, ou “medo de perder algo”, em tradução livre), que é o temor de não estar participando de tudo, de não estar a par dos assuntos que dominam as redes sociais. A expressão foi criada em 2000 e posteriormente pesquisadores de Harvard e Oxford, definiram o FoMO como um desejo de estar permanentemente conectado com o que os outros estão fazendo. Assim, as redes sociais se tornaram o local ideal de conectividade, trazendo o aumento da ansiedade dos que acompanham de fora aquilo que está todo mundo comentando e compartilhando.

O incômodo que a pessoa sente por “ficar de fora”, ou estar perdendo algo, está totalmente relacionado com o nosso presente superconectado na era da informação.

Outro Transtorno é a Nomofobia, ou dependência tecnológica, que é a fobia causada pelo desconforto ou angústia resultante da incapacidade de acesso à comunicação através de aparelhos celulares ou computadores. Os sintomas se repetem e podem ser emocionais: angústia, ansiedade, irritabilidade, medo, estresse, crises de pânico, tristeza, solidão, depressão e físicos: falta de ar, sudorese, tontura, tremores, náuseas, dor no peito, aceleração da frequência cardíaca, dor de cabeça, enxaqueca.

A nomofobia ou medo de ficar desconectado ao celular ou a internet, ocorre quando a pessoa:

• Se sente incapaz de desligar o telefone

• Verifica de maneira obsessiva chamadas, e-mails e mensagens de aplicativos

• Fica continuadamente preocupado com a duração da bateria

• Fica incomodada quando a rede não funciona direito

• Se preocupa de forma excessiva com a internet

• Passa cada vez mais tempo online

• Faz tentativas fracassadas de reduzir o tempo na rede

• Sente irritabilidade, depressão ou instabilidade de humor quando o uso da internet está limitado

• Fica online mais tempo do que o previsto

• Coloca relacionamentos afetivos, familiares, sociais e/ou de trabalho em risco

• Mente para os outros sobre tempo gasto na rede

• Usa a internet para escapar de problemas

Um outro transtorno é o vício em jogos on-line. Este vício levou a Coréia do Norte a promulgar a Lei Cinderela, que corta o acesso a games online entre a meia-noite e às 6 da manhã para usuários com menos de 16 anos em todo o país.

Além disto, tem crescido no mundo, grupos de autoajuda e centros de recuperação para viciados em Jogos online, com um programa organizado em 12 passos.

Embora a Psiquiatria ainda não reconheça o vício em jogos online como um transtorno único, a Associação Psiquiátrica Americana vem pesquisando o assunto, para incluí-lo nas atuais dependências, a exemplo do que já acontece nos jogos de azar.

Outro transtorno que surge com o uso inadequado da tecnologia é a Cibercondria, ou hipocondria digital, que é a tendência em acreditar que você tem doenças sobre as quais leu online. A internet torna-se um amplo e vasto reservatório de informações médicas, algumas válidas e outras contraditórias, que disponíveis online permitem que a imaginação da pessoa voe.

Em um estudo da Microsoft em 2008, descobriu-se que auto diagnósticos feitos a partir de ferramentas de busca online geralmente levam os “buscadores aflitos” a concluir o pior. É a hipocondria digital que com o advento da internet, exacerba e acelera a hipocondria que sempre existiu, pois, a informação está disponível a qualquer tempo e a pessoa com sintomas de hipocondria, busca informações que de certa forma, confirmem suas suspeitas relativas a suposta doença. Com isto, pode causar outros transtornos tais como ansiedade.

A pessoa com cibercondria, busca e seleciona informações sobre seus sintomas, unem diagnósticos médicos e chegam as piores conclusões sobre sua situação.

Um outro transtorno é o efeito Google que embora não necessariamente possa ser negativo, pode interferir em algumas situações. Este transtorno é a tendência do cérebro humano em reter menos informação porque ele sabe que as respostas estão ao alcance de alguns cliques. Isto faz com que o cérebro fique “preguiçoso”, ou que retenha menos informações. Como a informação está disponível, nosso cérebro registra que não é preciso memorizar tal assunto, porque posso achar no Google mais tarde, porém a pessoa pode precisar de alguma informação e por algum motivo, não ter acesso a internet/celular e não ter memorizado o assunto.

Vejam como é fácil se distrair na internet desviando o foco e o objetivo de um trabalho ou de uma aula, podendo gerar prejuízos escolares, financeiros quando se trata de trabalho, emocionais e familiares, além claro de sérios danos para a socialização da criança e do adolescente, advindo do isolamento da pandemia.

Então, como não cair nas armadilhas da tecnologia e das informações?

1. Conscientização

• Preste atenção no tempo que você usa os dispositivos eletrônicos e destina às redes sociais, procurando identificar sites e redes sociais que mais utiliza e sentimentos gerados

• Preste atenção se você está postergando assuntos e ações importantes, como estudar

• Faça um mapa com tempo e sites que utiliza

• Preste atenção se você se distrai com interferências tecnológicas

• Preste atenção se o tempo que você se dedica ao uso dos dispositivos está comprometendo suas relações familiares e pessoais

2. Use a tecnologia a seu favor, instalando programas que bloqueiem ou que forneçam informações sobre o uso que você faz do celular e aplicativos, tais como:

• Menthal, o aplicativo monitora o tempo que o usuário passa no telefone, quais aplicativos são acessados e outros hábitos corriqueiros, realiza estatísticas para informar se o nível de uso está exagerado, mede o progresso do “paciente” e avisa sobre o eventual risco de doenças decorrentes da dependência, como a depressão

• BreakFree, o aplicativo monitora o uso e emite alertas que deixam bem claro quão dependente a pessoa está. Sempre que nota algum exagero, o mascote do aplicativo aparece para pedir que você dê um tempo

• Phone Addict Free: o aplicativo faz um acompanhamento de uso, informando quantas vezes você olha para o celular (ou tablet, também) por dia, ou em média, e também informa quando você esteve mais dependente do aparelho. Como suporte, você pode compartilhar as informações com amigos e família, para que eles ajudem a pressionar

• Nomophobia: O aplicativo deixa claro este transtorno, ao confrontar a pessoa com uma mensagem na tela principal, que informa quanto tempo a pessoa levou para pegar o celular de novo. Também gera gráficos que tornam a percepção da informação mais fácil de ser interpretada

3. Ações

• Planeje seu dia e sua rotina, mantenha horários para contato direto com sua família em casa (café da manhã, almoço, jantar, etc..); destine um tempo para conversar com seus amigos e outros familiares virtualmente, a rede de apoio social é muito importante;

• Demarque fins de semana e feriado, de forma que sua semana siga um fluxo normal como era antes da pandemia, nos fins de semana procure algum lazer, ou pratique um hobbie;

• Durante o trabalho em home office ou em aula online, desative notificações do celular, para não dispersar sua atenção

• Entre um celular e um note, de preferência ao note

• Reserve, no seu dia, momentos adequados para acessar a internet, planejando horário e tempo, isto diminuirá a ansiedade de acessar a internet.

• Leia um livro, sempre que for possível, passeie em parques, caminhe, faça atividade física

• Selecione o que pesquisar e o que ler, sempre pensando: O que isto irá agregar ao que estou fazendo?

4. Compartilhe seus sentimentos e pensamentos a respeito de suas dificuldades sobre assunto, com amigos e pessoas de sua confiança, mesmo que virtualmente.

5. Por fim, se precisar, procure ajuda profissional.

Pense nisto!

Ótima semana!