Reflexões sobre o envelhecer: Você tem medo de envelhecer? O que está fazendo para envelhecer de forma saudável?

Reflexões sobre o envelhecer: Você tem medo de envelhecer? O que está fazendo para envelhecer de forma saudável?

1 de outubro de 2020

O dia Mundial do idoso se comemora no dia 01/10, ótima oportunidade para refletir sobre esta fase da vida.

Como sabemos a vida ocorre em ciclos e envelhecer faz parte desses ciclos, sendo é um dos aspectos da vida que não escolhemos, sem querermos, ele vai acontecendo, transformando nosso corpo e nossa alma.

A cada ciclo mudamos nosso foco e nossa energia e muitas vezes não entendemos o que se passa conosco.

Desde o nascimento, passamos pelo amadurecimento físico de nosso corpo e pela formação de nossa personalidade, depois nos inserimos na sociedade e fazemos escolhas afetivas, de carreira, profissional, de casar ou não, de ter filhos ou não, etc.. e a partir dos 42 anos começamos a entrar no ciclo do amadurecimento, da profundidade e da espiritualidade.

Os ciclos nos trazem novas experiências, percepções e aprendizagens e em cada um, há uma morte e um renascimento. Refletir, deixar ir o que não nos serve mais, absorver o que está por vir, este é o desafio de cada ciclo.

Com o envelhecimento é esperado o desenvolvimento da espiritualidade, que nos tornemos mais solidários, mais conscientes do mundo e de nós mesmos, mais observadores, mais tolerantes. É esperado também que olhemos o passado, aceitando nossa história, sem culpas e sem julgamentos.

É esperado que o alimento seja mais espiritual que físico, que ouçamos com o coração e não mais com o ouvido, que passamos a perceber o mundo com a intuição e experiência e não mais com a visão. Talvez seja este o motivo de ao envelhecermos aos poucos nossa visão e audição vão diminuindo.

Ao envelhecer, o interno passa a ser muito mais importante que o externo. Se na juventude nossos esforços e energia estavam voltados para a fora e para o corpo, ao envelhecermos nossos esforços e nossa energia são voltados para dentro de nós. Já não nos preocupamos tanto com o corpo e com o ambiente, mas sim com a nossa alma.

Como vimos há os ciclos de vida que nos levam a um crescente amadurecimento, mas ao mesmo tempo vivemos num mundo onde há uma negação da idade, o culto da beleza e da juventude, como se o idoso não tivesse sua beleza, porque seu corpo já não atrai mais os olhares e nem produz o que produziu nos anos dourados. Numa sociedade capitalista, onde o que conta é a produtividade e o lucro que acarreta, o que produz tem valor; o que deixou de produzir, vira peso, vira fardo.

Assim, a partir dos valores da sociedade as crenças vão sendo formadas e vão pautar a vivência do nosso envelhecer.

Se o futuro se cria a partir do presente, é preciso refletir sobre suas crenças, se perguntando, por exemplo:

O que para você é envelhecer? É ser doente e improdutivo? É ser um peso? É ter tudo acabado? É ser feio e indesejável? Quando deverei me considerar velho? Quais as características da velhice hoje?

Antes de tudo é preciso diferenciar os termos velho e idoso. Na etimologia o termo inicial era “idadoso”, ou seja, cheio de idade, significando: saboroso (cheio de sabor) ou melindroso (cheio de melindre); mas um fenômeno linguístico o reduziu a idoso – pessoa de muita idade.

Já o termo velho, ou velha, pode traduzir uma relação de afeto, ao se referir de forma carinhosa, ao pai, mãe, ou a um amigo, exemplo meu querido velho, meu velho amigo, etc..

Mas o forte do significado de velho não é nobre e se refere a deteriorado, vencido, gasto, ultrapassado, obso¬leto. Por isso mesmo, com frequência é usado para ofender e humilhar. No inconsciente coletivo, tudo que é velho deve ser jogado fora… então o que fazemos com os nossos “velhos”? E conosco mesmo?

Assim, o idoso é aquela pessoa que tem muitos anos de idade e o velho é aquela pessoa que, em qualquer época da vida, perde a jovialidade.

O idoso tem bom humor e participa do cotidiano, respeitando o seu ritmo, aproveita a experiência dos anos vividos, busca encontrar soluções, sonha, aprende e ensina; já o velho adormece e não sonha mais, não aprende e não ensina.

O idoso tem a felicidade de poder dizer que teve, ao longo dos anos, uma vida produtiva e mantém a esperança de ser útil por mais tempo, olha o passado para extrair as melhores experiências, mas vive o presente, o que facilita o convívio harmonioso e participativo entre o jovem e o idoso. Já o velho carrega, culpas, mágoas e não sente à vontade de participar e nem de transmitir experiências para outras gerações, pois carrega e transmite pessimismo e desilusão.

O idoso sente prazer em seus dias fazendo planos para o futuro, enquanto o velho sente saudades do passado e sofre, o que o leva a adoecer.

O idoso tem uma vida ativa, cheia de projetos e esperança; para ele o tempo passa muito rápido e não sente a velhice chegar, já o velho vive no sonâmbulo de sua vida… nem sonha… suas horas se arrastam num marasmo.

O idoso busca na modernidade o diálogo com a juventude e assim busca compreender os novos tempos; o velho, como se fosse uma ostra, se fecha, não aceita a juventude, se nega a aprender e critica a modernidade.

Diante do inevitável envelhecer e do ambiente em que vivemos as reflexões que ficam são:

• Como queremos vivenciar nosso envelhecer?

• Vamos buscar camuflar obsessivamente o envelhecimento físico de nosso corpo, para que ele não denuncie nossa idade e não nos deparemos com nosso medo do envelhecer?

• Como nossas ações e valores se encaminham quando defrontados a essa realidade?

• Se você está na fase do envelhecimento, como você se considera: mais idoso ou mais velho?

• Se você tem uma pessoa na família nesta fase, como você tem ajudado ela a viver este ciclo?

• Você está preparada para esta fase? O que está fazendo para chegar na velhice de bem com a vida, equilibrada, saudável física, social, mental, emocional e espiritualmente?

• Como você está vivendo cada novo ciclo?

Algumas dicas podem ajudar nesta fase, são elas:

• Procure entender e respeitar seu corpo em cada fase, em especial na menopausa, para criar a ponte e um entendimento entre o físico e o psíquico;

• Pense seu ciclo de envelhecimento como uma obra em uma reforma, onde é preciso se reinventar e se reconhecer nesse novo lugar de vida;

• Pense no que quer e no que não quer mais, faça um projeto de vida;

• Busque apoio profissional para te acompanhar nessa empreitada;

• Já que corpo e mente não são indissociáveis é fundamental entender as novas necessidades e os novos limites do corpo maduro: cuidar do bem-estar físico, aprendendo a lidar com as oscilações hormonais, realizar atividades físicas, cuidar da alimentação, fazer exames periódicos e preventivos; cuidar do social, se reunindo com amigos e fazendo novos, participando da comunidade, etc.. cuidar do mental fazendo cursos, exercitando a mente, conversando, aprendendo e ensinando; cuidar do emocional, olhar sua história e o seu percurso, se regozijar com eles, extrair o que for de melhor, valorizar suas pequenas vitórias, se perdoar por aquilo que não fez ou faria diferente hoje, pois hoje você já é outra pessoa, construir novos limites, refletir sobre seu novo lugar na família, como pai, mãe, avó, avô, refletir como se relaciona com os mais jovens e o que pode aprender com eles, cuidar do espiritual, revisando seus valores, se reconciliando com sua vida e missão, resgatando sua essência, se comportando de forma coerente com sua essência e valores.

• Pensar em novos trajetos. Novas trilhas. Embora seja uma tarefa difícil e angustiante, ela é necessária.

O que facilita muito o caminhar nesse ciclo da vida é a renovação do repertório, a ampliação da visão e do ponto de vista, é o desapego da forma de agir que não mais combina com este ciclo ou com o contexto em que vive. É preciso elaborar o luto da perda da juventude.

Como falei no texto, envelhecer não é uma escolha, é uma etapa da vida que pode ser cinza ou colorida, pois ao mesmo tempo, esta fase pode ser uma boa oportunidade para nos sentirmos mais interessantes, mais sábios, identificando os mais nobres valores e sua marca pessoal e imprimi-la amorosamente no meio em que se vive.

Não é preciso esperar a idade e o novo ciclo chegar para refletir sobre estas questões, assim, convido todos a fazerem um exercício de futuro, de como querem chegar lá.

Pense nisto!