Revisitando Platão e seu mito da Caverna, tão atual nos dias de hoje

Revisitando Platão e seu mito da Caverna, tão atual nos dias de hoje

8 de fevereiro de 2021

Platão, (428 a.C – 348 a.C, Athenas, Grécia), filósofo e matemático foi discípulo de Sócrates e é considerado o pai da Filosofia.

Com sua teoria idealista, distinguia o conhecimento do mundo físico, sensível, inferior e enganoso, que seria obtido pelos sentidos do corpo, do conhecimento das ideias, inteligível, superior e ideal, que acessaria a verdade sobre as coisas.

O conhecimento inteligível, ou seja, do mundo das ideias seria aquele que permite o nosso acesso ao Ser e à essência de algo, que seria imutável, ao contrário da aparência, que pode enganar-nos. O conhecimento inteligível estaria no Mundo das Ideias e das Formas, enquanto o conhecimento sensível estaria em nossa realidade material.

O Mundo das Ideias ou das Formas seria a realidade intelectual, verdadeira, eterna e imutável, que pode ser acessada apenas por meio da capacidade racional do ser humano. Nessa instância, estariam as essências das coisas, os conceitos, as ideias fixas e imutáveis que descrevem essencialmente cada ser ou objeto existente.

Já o mundo sensível seria a realidade com a qual nos defrontamos em nosso mundo prático, que experimentamos, sendo ilusória e enganadora.

A relação entre o conhecimento do mundo físico e o conhecimento do mundo das ideias dá origem a uma realidade de luzes e sombras, pois de um lado, se tem a realidade como ela é (luz) e de outro, encontramos uma ficção (sombras) onde nossas crenças e sonhos assumem um papel preponderante.

Em seu mito da Caverna, Platão explora esta dualidade da realidade, tão atual e tão controvérsia nos dias de hoje.

De acordo com a história de Platão, existia um grupo de pessoas que vivia em uma grande caverna desde que nasceram, com seus braços, pernas e pescoços presos por correntes, forçando-os a olharem unicamente para a parede dessa caverna.

Nunca saíram de lá e nem podiam olhar para trás para saber a origem das correntes que os prendiam. No entanto, atrás delas havia um muro e um pouco mais longe uma fogueira. Entre o muro e a fogueira alguns homens transportavam objetos que se projetavam sobre as paredes da caverna. Graças à fogueira, os homens acorrentados podiam vê-los projetados na parede.

Os homens só tinham visto as projeções desde que nasceram, por isso, não sentiam necessidade ou curiosidade de se virar e ver o que produzia essas sombras e acreditavam fielmente no que viam. Mas era uma realidade artificial enganosa, para eles as projeções eram a própria realidade.

No entanto, um deles se atreveu a virar e observar o que estava acontecendo.

No início, ficou confuso e tudo o irritava, especialmente aquela luz que ele via no fundo da caverna (a fogueira). Então, começou a desconfiar.

Até então ele acreditava que as sombras eram a única coisa existente e, por vezes duvidava do que via, pois toda vez que progredia, as dúvidas o tentavam com a possibilidade de voltar para as suas sombras.

No entanto, com paciência e esforço, seguiu em frente. Aos poucos, foi se acostumando com o que era tão desconhecido. Sem se deixar vencer pela confusão ou entregar-se aos caprichos do medo, ele saiu da caverna.

É claro que, no momento em que voltou para contar aos seus companheiros o que tinha visto, foi recebido com desconfiança: um desprezo que refletia a incredulidade dos habitantes da caverna pelo que o aventureiro lhes contava.

Essa reflexão que nos traz o mito da caverna é muito atual, pois seguimos um padrão de pensamento, formado pela educação, formação e cultura da sociedade e se ousarmos pensar de forma diferente, somos julgados e criticados.

Assim, crescemos criando nossas verdades absolutas e não paramos para questioná-las, e para refletir se o mundo realmente é como imaginamos.

Como no mito da Caverna, o homem que decide se libertar das correntes que o aprisionam toma uma decisão muito difícil, que longe de ser apreciada pelos seus companheiros, é entendida por eles como um ato de rebeldia e muitas vezes de loucura.

Algo que não é bem visto pelo grupo tende a desencorajar as descobertas. No entanto ao se decidir seguir em frente, mesmo podendo ser o caminho solitário, ele é libertário e fascinante. Medos e dúvidas irão surgir e confusões existirão: o que é real e o que não é?

Como ele poderia considerar o que estava vendo, se desde a infância era a única realidade que havia visto? Assim, somos nós, cheios de crenças e verdades prontas, moldes torneados ao longo do tempo, com os quais julgamos e criticamos quem não tem os mesmos moldes.

Sair deles é doloroso, exige esforço, persistência, humildade e muitas outras qualidades. Mas vale a pena, pois certamente encontraremos novas verdades e passaremos a enxergar o mundo e o outro de forma diferente e livre de julgamentos.

Assim, convido a todos a saírem da caverna e olhar, com os olhos da alma o mundo ao redor, sem julgamentos e críticas.