A escolha de Ser Mãe

A escolha de Ser Mãe

5 de maio de 2022

”Os filhos são como as águias,
ensinarás a voar mas não voarão o teu vôo.
Ensinarás a sonhar, mas não sonharão os teus sonhos.
Ensinarás a viver, mas não viverão a tua vida.
Mas, em cada voo, em cada sonho e em cada vida
permanecerá para sempre a marca dos ensinamentos recebidos.” Madre Teresa de Calcutá

Como nesta semana comemora-se o dia das mães, farei uma reflexão sobre este papel. Tão polêmico e tão importante no nosso passado, no nosso presente e no nosso futuro.

Tenho recebido em meu consultório, mulheres com suas dúvidas de Ser ou Não mãe e também casais com dúvidas a respeito de ampliarem suas famílias. Estas dúvidas são boas e representam um novo marco da história da mulher e da família.

Então vamos lá…

Ainda hoje a mulher tem sua figura, associada ao papel de mãe, como uma obrigação biológica, familiar e social. E, pior, numa visão romanceada sobre este papel.

Muitas mulheres não se dão conta desta cobrança e partem sem pensar para a maternidade, como uma forma de cumprir sua missão de vida. Porém ao se depararem com este papel, se sentem culpadas por não darem conta do que a sociedade espera e do modelo perfeccionista que possuem, por terem medo do que pode acontecer com sua “cria”, pois casadas ou não, as mulheres ainda são cobradas e se cobram pela educação e futuro de seus filhos.

Como há quase um consenso de que a maternidade é algo natural da mulher, é como se este papel não precisasse ser construído, pois há o entendimento de que o instinto feminino, dá conta da complexidade do papel de mãe.

Não… não é assim, pode ter sido um dia. Hoje o mundo está muito mais complexo em todas as suas dimensões, a mulher assumiu outros papéis na sociedade, como carreira e como provedora de sua casa. Em nossa história, a mulher contemporânea saiu da segurança do lar para enfrentar o mercado de trabalho em busca de novas possibilidades, novas conquistas e novos modelos e projetos de vida. A mulher ganhou novos olhares para si, completamente diferentes daquele concebido até metade do século XX e quebrou velhos paradigmas, enfrentando pressões da sociedade. Com esta mudança, a família também mudou sua configuração e o modo como seus integrantes lidam com esta situação.

Uma consequência direta desta mudança é a maternidade, que antes era o “projeto de vida e hoje tem sido adiada ou preterida em função de outros projetos.

Cada vez mais no Brasil, há a opção pela maternidade tardia, que segundo especialistas, ocorre a partir dos 35 anos. O desenvolvimento de métodos contraceptivos mais seguros e a evolução das técnicas de reprodução assistida permitiram, pelo menos em certa medida, que se consolidasse a ideia de que é possível escolher a hora de ter filhos.

A maternidade tardia assim como a relação mãe e filho é marcada por paradoxos e ambivalências. Na relação mãe filho, ao se ter a visão romanceada do papel de mãe, rouba-se da mulher a possibilidade de sofrer, chorar, se deprimir, sentir raiva, culpa, medo, etc… Freud, já apontava que a relação mãe e filho é marcada pela ambivalência, onde amor e ódio são os dois lados de uma mesma moeda. Pensar que existe um amor materno sem violência, sem ódio, sem ambivalência seria tão radical quanto negar a existência do inconsciente, segundo o pediatra e psicanalista Winnicott (1947/1993), que destaca que o ódio está presente na maternidade, visto que, sobretudo, no processo de adaptação da mãe ao bebê será necessário que esta tolere a interferência do filho na sua vida privada. O psicanalista ainda sugere que a partir do nascimento um novo desafio é apresentado à mulher: a tarefa de conter as angústias do bebê e as suas próprias, mantendo a “continuidade de ser” e estruturando a identidade anterior às novas experiências como mãe.

Romper com o modelo materno ideal imposto pela cultura vigente, onde a maternidade é retratada como uma ficção que exclui a possibilidade da coexistência de sentimentos ambivalentes na relação da mãe com o bebê, pode ser devastador e desintegrador para a mãe, se ela não conseguir seguir este padrão.

Se de um lado, a opção pela maternidade tardia, oferece a oportunidade anterior de crescimento e satisfação profissional com a carreira, maior maturidade emocional, maiores condições econômicas, sociais e emocionais para se tornarem mães, estrutura de apoio financeiro e especializado, que permite conciliar com maior equilíbrio suas tarefas domésticas e laborais, também apresenta seus paradoxos, pois a falta de experiência em lidar com as consequências da maternidade pode surpreender as mães tardias de maneira ainda não imaginada e promover sensações de fracasso e impotência, podendo gerar crises individuais e no casamento. Outro ponto que tem sido observado é o empobrecimento ou ausência de uma rede de suporte social e familiar e a vulnerabilidade sob o ponto de vista biológico nas gestações acima dos 35 anos, pois a mulher mais velha pode ter maiores dificuldades para lidar com crianças na primeira infância, pois estas demandam prontidão, energia, cuidados incessantes e agilidade para o exercício da maioria das atividades.

Por tudo isto, é preciso que a mulher e o casal reflitam sobre estas questões e saiam do senso comum de que ser mãe é um processo natural e que a maternidade tardia é a melhor alternativa.

É preciso se preparar para a maternidade, de forma a ser esta uma escolha consciente e menos idealizada sendo tardia ou não.

A maternidade também é um exercício de desapego, de formar o filho para a vida, de acreditar que fez o melhor que sabia fazer e de confiar na individualidade de sua cria.

Assim, reflexões sobre o porquê quer um filho, o que ele representa, que estrutura sócio-econômica-afetiva a mulher e o casal possuem, apoios familiares, o quanto cada um está disposto a abrir mão ou a adiar projetos, o quanto a mulher ou o casal estão preparados para esta jornada, etc… são importantes para a tomada de decisão que mudará toda a vida da mulher e do casal.

Então mãos à obra. Reflita sobre estas questões e se precisar peça apoio nesta decisão, uma terapia ou um processo de coaching específico pode ajudar.

Feliz Dia das Mães!