A mulher através dos tempos
8 de março de 2022
Provavelmente a humanidade nunca tenha estado numa posição tão privilegiada como agora; há a disponibilidade de uma idade de ouro de poder mecânico e a possibilidade de uma nova era no sentido dos valores femininos.
(…) Estamos na crista da onda onde o melhor dos dois mundos pode ser conseguido se formos suficientemente sábios (…) “Johnson, 1991”
Nesta edição vamos falar da Mulher e de sua jornada de transformação, pois esta compreensão não só ajuda no autoconhecimento e empoderamento da mulher, mas também pode ajudar aos homens a entenderem as transformações que marcaram a psique feminina.
A história de mundo vem se transformando. Passamos por uma era matriarcal, marcada pelo arquétipo feminino da Grande Mãe, onde a intuição, o cuidar, a receptividade, a subjetividade, a sensibilidade, o respeito aos ciclos, a ligação e respeito com a natureza, se faziam presentes.
“Arquétipo” descreve padrões de imagens e símbolos recorrentes presentes em todas as culturas, parcialmente herdados, transmitidos de geração em geração e que compõem o inconsciente coletivo, onde a psique armazena imagens humanas de nossos antepassados ao longo da história da humanidade e que influenciam à nossa maneira de pensar, perceber, interpretar, expressar e atuar no mundo.
Voltando as transformações, o mundo foi se transformando de um mundo matriarcal para um mundo patriarcal, com predomínio de padrões masculinos em detrimento dos padrões e modelos femininos. Este modelo marcado pelo “logos”, ou seja, pelo pensar, pelo poder, pela dominação, pela imposição de regras, pela competição, pela impessoalidade nas relações entre outros padrões, reprimiu o arquétipo feminino, estabelecendo novos padrões na sociedade.
Com esta transformação, o mundo passou a se expressar pelo arquétipo do masculino e a mulher que inicialmente assumiu um papel de submissão, aos poucos foi fazendo sua revolução e se transformando, aderindo ao modelo patriarcal, se expressando e agindo de acordo com o princípio masculino, ou seja, agindo demais, competindo demais, julgando demais, discriminando demais, se relacionando de menos, criando menos, cuidando menos.
Mas qual é o mal no arquétipo masculino? O mal se manifesta em viver um único arquétipo em detrimento do outro, o que gera um eterno conflito. Viver unilateralmente o arquétipo masculino, trouxe vários danos à saúde psíquica individual e coletiva da mulher. Para conquistar o espaço profissional, a mulher precisou se masculinizar, assumindo dupla jornada, a do trabalho e o da casa. Com isto perdeu o espaço para se cuidar. Se perde do feminino, quando assume cada vez mais obrigações, quando quer dar conta de tudo, quando percebe que não está em seu equilíbrio, porque o tempo é curto demais e as obrigações são muitas demais. Esta conexão com o masculino e desconexão com o feminino, acabaram gerando diversos problemas de saúde física e mental, tais como: enxaqueca, insônia, dor no corpo, depressão, vazio interior, entre outros sintomas.
Com isso, as mulheres perderam a identidade e pagaram o preço de se colocarem num mundo que é muito diferente do feminino. Tivemos que “esquecer” nossa verdadeira natureza para ocuparmos nosso espaço na sociedade e sermos respeitadas.
Mas de novo o que está errado? O errado é viver um lado só. O problema é ser só racional, ter só obrigações e perder o contato com a intuição, com a voz e sabedoria interior. Com isto tanto a mulher, como o homem se perderam. Especificamente, nós mulheres nos desconectamos com nossa energia interna, passamos a viver conflitos de toda a ordem, tais como: temos que ser mãe? Temos que constituir família? Temos que competir com os homens? Qual é o nosso lugar?
Na evolução do mundo, o arquétipo masculino foi muito importante, e nos deu grandes contribuições nas ciências, na tecnologia, nas descobertas, etc., o que sem estes marcos não estaríamos onde estamos.
Felizmente, o feminino não morreu e ressurge a cada gravidez, onde a mulher se transforma e volta para a sua natureza feminina. O corpo com sua sabedoria nos faz entrar em contato com o inconsciente, e com a vida interior, e é na gravidez que a mulher muda e expressa o seu arquétipo feminino.
Por sua vez, os homens se sentem ameaçados e amedrontados, diante de uma mulher que atravessa os obstáculos e de certa forma tenta controlar tudo.
Como fazer diante deste impasse? A mulher só será aceita com sua energia feminina, quando aceitar que sua natureza é diferente da do homem. Quando der o devido valor ao seu feminino.
Quando isto acontecer ela terá restituída a sua dignidade e poderá resgatar e trazer para o domínio público seus valores e saberes femininos.
Este é o grande desafio de nossa era: restaurar nossa dignidade e a convivência dos dois princípios no interior de cada um, para que se expresse no exterior.
Porém para que isso ocorra é necessário o “se voltar” para a vida interior, pois já não somos o que fomos e ainda não somos o que seremos.
A mudança já começou, a integração entre ciência e espiritualidade, o resgate das parteiras e das benzedeiras, o resgate da mãe natureza e de todos os seus benefícios que trazem para nós, o olhar cuidadoso sobre o planeta, o olhar para as minorias e para os excluídos, nos dá a dimensão desta transformação.
Os desafios estão postos e o momento nos clama para reconhecer, valorizar e integrar nossa energia feminina.
É este o convite que faço com esta reflexão. Mergulhe no seu interior, descubra sua energia feminina, viva-a e valorize-a.
Feliz todos os dias!