Conhecendo algumas técnicas de manipulação – O experimento de Milgran
14 de março de 2022
As técnicas de manipulação psicológica tornaram-se objeto, há muitas décadas, de aprofundados trabalhos de pesquisa realizados por psicólogos e psicólogos sociais, tanto militares quanto civis. Às vezes difícil, e psicologicamente desconfortável, admitir sua eficácia.
Tais técnicas apoiam-se essencialmente sobre o behaviorismo e a psicologia do engajamento
Dentre as técnicas de manipulação psicológica, três se destacam. Hoje vou trazer o experimento de Milgram.
O experimento de Milgram, visou estudar a submissão à autoridade, para tanto, o professor, pesquisador e cientista social Stanley Milgram repetiu suas experiências com 300 mil pessoas, que foram reproduzidas em numerosos países, sendo seus resultados indiscutíveis.
Motivado pela dúvida, pós segunda guerra mundial, de como é que pessoas cultas e inteligentes puderam organizar um sistema tão sofisticado e eficiente quão macabro de violência e morte, Milgram, começou em 1961 uma série de experiências com o intuito de estudar até que ponto os seres humanos obedeciam a uma autoridade, por mais imoral que esta fosse.
O impacto social e científico destas experiências foi recentemente abordado no filme O experimento de Milgran. Lançado no Brasil em 2019, onde se explora a desumanidade a que todos estamos sujeitos se deixarmos de ter consciência do outro e de como a presença deste nos deve obrigar a refletir sobre o limite das nossas ações.
A experiência envolveu três personagens:
1. o pesquisador
2. um suposto aluno, que na verdade é um colaborador do pesquisador, mas que o professor desconhece esta condição
3. e o verdadeiro objeto da experiência, o professor
A experiência pretendia determinar a influência da autoridade frente as ordens de punições.
Para tanto, o professor devia mostrar ao suposto aluno (colaborador), listas de palavras e, em seguida, testar sua memória.
Em caso de erro, uma punição precisava ser imposta ao suposto aluno (colaborador). As punições consistiam em descargas elétricas de 15 a 450 volts, as quais o próprio professor deveria acionar contra o suposto estudante, situado em cômodo vizinho. A voltagem das descargas aumentava a cada erro cometido.
O suposto aluno, não recebia essas descargas, mas simulava que as recebia, já o professor acreditava que estava dando as descargas elétricas a cada erro. Para confirmar a descarga, o próprio professor recebia, no início do experimento, uma descarga de 45 volts, para assegurar-se de que o gerador funcionava.
Era assegurado ao professor que os choques, embora dolorosos, não deixavam sequelas.
O pesquisador devia zelar para que a experiência chegasse a seu termo, tratando de encorajar o professor, caso este viesse a manifestar dúvidas quanto à continuidade da experiência ou caso desejasse encerrá-la.
A orientação e o encorajamento dados pelo pesquisador, eram padronizados, da seguinte forma:
Á primeira objeção do professor, o pesquisador lhe respondia: — “Queira continuar, por favor”
Na segunda vez: — “A experiência exige que você continue”;
Na terceira vez: — “E absolutamente essencial que você continue”;
Na quarta e última vez: — “Você não tem escolha. Deve continuar”.
Se o professor persistisse em suas objeções após o quarto encorajamento, a experiência seria encerrada.
Resultados:
Mais de 60% dos professores levaram a experiência até o final, mesmo convencidos de que estavam realmente administrando correntes de 450 volts.
Em alguns países, o percentual chegou alcançar 85%.
Acrescenta-se que a experiência era extremamente penosa para os professores, e que eles vivenciaram uma forte pressão psicológica, mas seguiam.
No caso de o professor limitar-se a simplesmente ler a lista de palavras, enquanto as descargas fossem enviadas por outra pessoa, mais de 92% dos professores chegavam a concluir integralmente a experiência.
O que mais chamou a atenção, é que nenhum professor tentou deter a experiência ou denunciar o pesquisador.
A submissão à autoridade é, portanto, muito mais profunda do que aquilo que os percentuais acima sugerem.
Conclusões: Quais conclusões se podem tirar dessa experiência inúmeras vezes repetida?
Existem técnicas muito simples que permitem modificar profundamente o comportamento de adultos.
A conclusão assustadora do estudo foi a extrema disposição de pessoas adultas em seguir cegamente as ordens de uma autoridade e, sobretudo, a sua desresponsabilização individual perante ordens que levavam à destruição consciente de uma vida humana.
Se deixarmos de ter consciência do outro e de como sua presença nos obriga a refletir sobre o limite das nossas ações, estaremos todos sujeitos a bárbarie, pois perderemos nossa humanidade.
Por fim, em 1964, Milgram recebeu por este trabalho o prémio anual em psicologia social da American Association for the Advancement of Science. Os resultados da experiência foram apresentados no artigo Behavioral Study of Obedience no Journal of Abnormal and Social Psychology (Vol. 67, 1963 Pág. 371-378) e posteriormente no seu livro Obedience to Authority: An Experimental View 1974.