Pandemia e Medo

Pandemia e Medo

1 de outubro de 2020

“Esse momento histórico é ímpar. Outras pandemias já existiram, mas nenhuma com essa característica de globalização, de compartilhamento de informações instantâneas e de como as pessoas mantém seus relacionamentos sociais atualmente. É também um período extremamente delicado, estamos vivendo num momento de vulnerabilidade das nossas emoções.” Maila de Castro – Professora do Departamento de Saúde Mental da Fac. De Medicina da UFMG

O medo por si só não é uma emoção patológica, mas é um instinto importante que nos avisa e nos prepara para situações de ameaça. É um sentimento pessoal de insegurança que o homem tem em relação a uma pessoa, uma situação ou um objeto e que difere de uma pessoa para outra. Para entender o medo temos que entender a maneira e o motivo que leva uma pessoa a perceber a situação como ameaçadora a ela, pois nem sempre a situação, a pessoa ou o objeto é de fato ameaçador, mas depende da emoção gerada na pessoa, em função de como ela percebe a situação.

Um bom começo para entender o medo, é perceber que todos os medos surgem da preocupação a respeito do que poderá acontecer em consequência da situação – futuro, e não a situação em si mesma – presente.

Ao sentir medo, nosso corpo nos prepara para “lutar ou fugir da situação ameaçadora”, gerando mais adrenalina e a pessoa então pode sentir tremores e enjoos, dores agudas nos braços, pernas e ombros, boca seca, suores e um bombardeio de informações que o cérebro não consegue filtrar. Tudo isso pode acontecer em relação a algo que não seja uma ameaça física de fato, mas sim em relação à uma ameaça emocional, ou seja como a pessoa percebe a situação ou então que associações a pessoa fez para perceber a situação como ameaça.

Se por um lado, temos o medo, de outro temos também o desejo de mudar. Se o medo for maior do que o desejo de mudar, a pessoa se sente impotente diante da situação e paralisa, não enfrenta seus medos e não luta pelos seus desejos. Este é um dos aspetos negativos do medo.

Pode-se dizer que as decisões conscientes são responsáveis por apenas 20% dos comportamentos, enquanto os outros 80% são formados por sentimentos e motivações inconscientes, que muitas vezes nem percebemos que possuímos.

Tendo o medo aspectos positivos e negativos. Estudiosos dividiram o medo em seis graus, dependendo de sua extensão e do estado de paralisação gerado na pessoa. São eles:

1. Prudência

2. Cautela

3. Alarme

4. Ansiedade

5. Pânico (intenso medo)

6. Terror (Medo muito intenso/fobia)

Os três primeiros graus são positivos, pois de certa forma, protegem e levam a pessoa a focar na nova situação, nos preparando para ela. A partir do nível 4, as sensações físicas começam a aparecer podendo paralisar e bloquear qualquer ação, impulsionando a pessoa a fugir. Esta fuga ocorre muitas vezes também de forma inconsciente, mascarada por doença, ou outro motivo que nos afaste da situação ameaçadora.

O problema é que o inimigo de 2020 não tem rosto, nem dá para fugir dele, pode estar em qualquer lugar, representa um perigo permanente, o que dispara o gatilho da tensão a todo instante. Diante desta situação vem surgindo uma pandemia de medo e estresse, o que poderá gerar a médio e longo prazos transtornos mentais tais como: ansiedade, depressão, síndrome do pânico, entre outros.

Em uma pesquisa que fiz em Abril, sobre sentimentos e pensamentos gerados na pandemia, 80% das pessoas, descreveram o medo como um sentimento muito presente.

O emocional, deriva do que pensamos e das crenças que a pessoa tem, então é muito importante sermos observadores de nossos pensamentos e identificarmos que crenças temos a respeito de nós e do mundo e como agimos frente a tudo isso.

Há um processo dentro de nós que se desencadeia a partir do pensamento:

PENSO SINTO E AJO, sendo preciso que cada um conheça a sua dinâmica de pensar e funcionar no mundo.

Esta situação nos remete ao medo em relação a sobrevivência e as incertezas. Assim, o medo ao mesmo tempo que nos protege (uso de máscara, isolamento social, busca de fortalecimento da imunidade, etc..):

• Nos paralisa, nos confunde e em excesso nos impede de raciocinar

• Nos faz agir muitas vezes de forma irracional. Exemplo fazer estoque de alimentos, luvas, álcool gel em excesso, xingar o idoso que está na rua, bater em quem foge da regra, comer muito, reclamar, etc..

• Nos adoece, pois baixamos a imunidade

Portanto, é preciso transformar o medo em aprendizagem e as incertezas da situação, na certeza que você pode fazer escolhas e controlar seus pensamentos

Como não deixar o pânico e esses sentimentos de medo dominar nossos pensamentos

• Nossa mente navega entre passado, presente e futuro e o ideal é mantermos a mente o mais tempo possível no presente, principalmente neste momento. A pessoa focada no presente não tem medo do futuro, pois o constrói no presente, se planejando e acreditando que é possível escrever um futuro de sucesso.

• Não é mágica, é construção, é esforço, é mudança.

• É preciso ser um auto observador, é preciso fugir das armadilhas da mente e permanecer no presente.

• Nós podemos escolher onde dar o nosso foco, se no passado, no presente ou no futuro, se nas coisas positivas ou negativas.

• O que posso fazer para ajudar o outro?

• Desligue a TV. Faça dieta de notícias.

• Selecione seus veículos de informação.

• Tenha cuidado com as Fake News que recebe e envia.

• Faça exercício de respiração, pois assim você tira o foco do pensamento e do medo. Respire fundo e sinta sua respiração.. faça isso pelo menos por 4 vezes.. vc vai perceber que seu pensamento vai mudar.

• Faca arte. A arte nos traz para o presente!

• Medite.

• Pratique Yoga.

• Se puder, e tiver condições, adote um animal

• Ouça música relaxante.

• Não crie tensões desnecessárias sobre coisas que estão fora de seu controle. Ao invés pense: No momento atual, o que posso fazer hoje para melhorar o meu futuro? Pode ser um curso novo, adoção de uma nova atitude, buscar novas possibilidades de trabalho, mudar de carreira, etc.

E, se sentir necessidade não espere para buscar ajuda profissional.